E aconteceu que se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram.
Houve chuva sobre a Terra.
Todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos.
E prevaleceram as águas sobre a Terra.
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Esse parece ser o relato da tragédia que tomou o Estado brasileiro do sul.
Terras devastadas, campos inundados, cidades inteiras destruídas.
Desolação, mortes.
Pelas redes sociais circulam os versos de alguém, o poema de outro, em variadas versões.
Uma forma de consolo.
Também de alerta.
Quando a tempestade passar, as estradas se amansarem e formos sobreviventes de um naufrágio coletivo, com o coração choroso e o destino abençoado, nós nos sentiremos bem-aventurados só por estarmos vivos.
A vida é dom precioso.
Tantas vezes a desprezamos, em dias de inquietação, de dívidas acumuladas e derrocadas afetivas.
Mas quando uma imensa tragédia rouba vidas sem piedade, nos damos conta de que somos felizes por estarmos vivos.
E em altos brados dizemos aos céus: Obrigado, Senhor, porque ainda estamos aqui.
Olhando para nosso entorno, agradecemos por encontrar alguém para abraçar e chamar de amigo, seja o vizinho de apartamento que nem cumprimentávamos, ou um desconhecido.
Deixamos de ser tão seletivos e exigentes, querendo que todos aceitem nossas ideias e aplaudam nossas escolhas.
Abandonamos a inveja porque perdemos tanto que não temos nada ou quase nada, como todos os da nossa cidade.
Como invejar a perda do patrimônio e a dos familiares, alguns deles cujos corpos ainda precisarão ser buscados e identificados?
A tragédia nos irmana.
Sentimos que precisamos nos abraçar, nos unir para tudo suportar e superar.
Talvez nos conscientizemos de que somos verdadeiramente frágeis e que aquilo pelo qual lutamos ferrenhamente pode ser perdido em segundos.
Quando a água da piscina, nosso local de lazer em horas perdidas, se torna nossa única possibilidade de asseio do lar, talvez pensemos em reformular nossa escala de valores.
Quando precisamos repartir a garrafa de água potável com quem está ao nosso lado, percebendo que estamos todos no mesmo bote, disputando a mesma chance de refúgio, aprendemos que somos verdadeiramente irmãos.
Quando nos entregamos aos braços fortes que nos vêm resgatar do telhado da casa ou do último piso, no qual nos abrigamos, aprendemos como é importante a solidariedade.
Quando ouvimos os lamentos doridos de quem perdeu vidas amadas, sentimos empatia por quem ficou e por quem se foi.
Se cremos na imortalidade da alma, não podemos jamais esquecer de orar por quem parte, preocupado, quem sabe, com quem deixou na rua lamacenta ou no abrigo improvisado.
Quando nos chega o alimento, o agasalho, o cobertor, aprendemos que generosidade deve ser a tônica da vida.
Nos dias futuros, que possamos lembrar de que devemos repartir mais e reter menos.
Igualmente de ir ao encontro de quem necessita e nos permitirmos menos dias soltos, no sossego do lar.
Quando tudo passar, queira Deus que tenhamos aprendido algumas lições para nos tornarmos melhores amigos, irmãos, verdadeiramente humanos.
Redação do Momento Espírita, com base no
livro bíblico Gênesis, cap.
7, vers.
11, 12 e 24 e
em versos atribuídos a Kathlenn O’Meara (1869),
e/ou a Catherine M.
O’Meara (A cura – 2020).
Em 21.
8.
2024.