A LEI E OS PROFETAS – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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“Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim

destruí-los, mas sim dar-lhes cumprimento.
Porque em verdade

vos afirmo: passará o céu e a terra, mas de modo nenhum passará

da Lei um só i ou um só til, sem que tudo se cumpra.
” (Mateus,

5:17 e 18.
)

Que lei é essa, a respeito da qual afirma o Mestre ser mais fácil

que o céu e a terra deixem de existir do que ela não ser cumprida

integralmente, sem a menor falha?

Seriam todas aquelas prescrições e ordenações contidas na

Bíblia, que muitos consideram “a palavra de Deus”, de capa a

capa?

Não! A Lei a que o Mestre se refere é o Decálogo.
Coubera aos

judeus as primícias de tão estupenda revelação, mas, não obstante

terem sido admoestados reiteradamente pelos profetas da

antiguidade, eles o haviam relegado ao mais completo

esquecimento, limitando-se a observar os formalismos do culto

exterior, estatuídos pelo rabinismo.

Sim, “a Lei e os profetas” que o Mestre veio exemplificar, para

que, a nosso turno, aprendendo com Ele, também puséssemos em

prática, são os dez mandamentos, que até então não haviam sido

cumpridos por ninguém, nem mesmo por Moisés, que os recebera

no monte Sinai.

Há que distinguir-se na Bíblia, por conseguinte, a lei moral, ou

seja, a Lei de Deus, que é imutável, indefectível e destinada, por

isso mesmo, a todos os tempos e a todos os povos, das leis civis

ou disciplinares que o citado Profeta, mentor que era dos judeus,

outorgou exclusivamente a seu povo e para aquela época,

contrariando, muitas vezes, o Código Divino.

Quem tiver dúvidas a esse respeito, corra os olhos pelo Velho

Testamento, onde se acham consignadas as ordenações de Moisés,

e verifique, depois, se nas disposições legais das sociedades

contemporâneas há qualquer coisa que se lhes assemelhe.

Absolutamente não!

É que a legislação moisaica era nacional, local e temporária,

isto é, destinava-se a reger tão somente os destinos dos hebreus,

naqueles caliginosos tempos bastante ignorantes e de péssimos

costumes, sendo, portanto, inexequível em nossos dias, em que

vigem usos e costumes completamente diferentes, fruto de muitos

e muitos séculos de progresso e de aperfeiçoamento das

instituições.

Já não acontece o mesmo com o Decálogo, cujos preceitos,

promulgados por Deus para vigência eterna e observância

universal, permanecem atualíssimos e impregnam os códigos de

quantas nações civilizadas se hajam organizado na face do

planeta.

A Lei foi dada aos homens para uni-los por um mesmo ideal: o

Amor.
Por isso é que Jesus Cristo, resumindo-a, para nos facilitar

sua compreensão, pregava: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o

teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.

Este é o máximo e o primeiro mandamento.
E o segundo,

semelhante a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos depende TODA A LEI E OS

PROFETAS”.
(Mateus, 22:37 a 40.
)

Portanto, tudo quanto possa inspirar desafeto a Deus e ao

próximo; tudo aquilo que dívida e desarmonize a família humana,

impedindo-a de realizar o sublime ideal vivido pelo Cristo (e estão

nesse caso os sistemas filosóficos, políticos ou religiosos que

prescrevem a discriminação racial, pregam o ódio, cultivam a

intolerância, amaldiçoam e perseguem supostos hereges,

advogam a pena de morte etc.
), não provém da Lei, ou melhor, é

contra a Lei, e terá de cair e desaparecer, como caíram e passaram

as prescrições moisaicas da lapidação, do olho por olho e dente

por dente, e outras tais.

“O Amor é o cumprimento da Lei”, essa a doutrina do

Evangelho.
Ninguém sonhe, portanto, com o paraíso, antes de

haver aprendido a “amar a Deus e ao próximo”, eis que, como

solenemente afirmou o Cristo: “Poderão passar o céu e a terra,

mas de forma alguma passará da lei um só i ou um só til, sem que

tudo se cumpra”.

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