28 AS ORGANIZAÇÕES: ESTRUTURA, ÉTICA, MÉTODOS, HIERARQUIA E DISCIPLiNA – DIÁLOGO COM AS SOMBRAS HERM 5/5 (1)

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Muito temos falado, aqui, sobre as organizações do submundo da dor e do desespero.
Tentemos estudá-las mais de perto.

É claro que jamais nos trouxeram, nossos irmãos desarvorados, os esquemas e organogramas de suas instituições, mas, de tanto ouvi-los falar delas, creio possível montar, com as inúmeras peças do gigantesco “puzzle”, um quadro inteligível desse tenebroso painel de desespero e aflição.

Em primeiro lugar, é preciso não cometer o trágico engano de subestimá-las.
Elas são realmente temíveis.
Foram concebidas e são operadas por inteligências privilegiadas, Espíritos longamente experimentados no mal, no exercício do poder, nos meandros do sofisma.
Isto não significa que, no desempenho de tarefas redentoras do bem, nos deixemos dominar pelo pavor, no trato com seus representantes, pois é exatamente isso que desejam e a que se acostumaram.
Dominam pelo terror que inspiram em toda parte, e, se cairmos nessa faixa, estaremos correndo riscos imprevisíveis.
O problema de lidar com elas é, pois, extremamente complexo.
E nunca é demais repetir: não o faça quem não esteja suficientemente apoiado por Espíritos esclarecidos, devotados ao bem e experimentados nesses trabalhos.
Se o grupo conta com a colaboração de companheiros experientes, eles saberão dosar o trabalho, segundo seus próprios recursos e possibilidades, e as tarefas de maior responsabilidade vão sendo trazidas, à medida que conseguimos passar pelas preliminares, de menor envergadura.
As equipes orientadas por esses dedicados trabalhadores anônimos do mundo superior manter-se-ão equilibradas, sempre que se portarem com prudência e sabedoria.
Como esses abnegados companheiros não impõem condições, mas limitam-se a nos aconselhar e esclarecer, é preciso estarmos atentos às suas sugestões e observações, para interpretá-las corretamente e pô-las em prática, com segurança.

Se nos sairmos bem das tarefas iniciais e passarmos nos testes a que somos submetidos, em benefício de nós mesmos, não podemos esquecer-nos de que precisamos manter nossa própria organização disciplinada, atenta, flexível, ajustada, porque a “do outro lado” é tão boa ou melhor do que a nossa, em termos de estrutura e disciplina, ainda que não o seja em objetivos e métodos.

As instituições das trevas são estruturadas numa rígida concentração do poder, nas mãos de alguns líderes, escolhidos por um processo impiedoso de seleção natural.
Sua liderança revelou-se na ação, em postos subalternos, ou confirmou-se através de séculos e séculos, em que se revezam encarnados e desencarnados.
Muitos deles, como signatários de pactos de vida e morte, sustentam-se aqui e lá, onde estiverem, sejam quais forem as condições, num princípio que tem muito mais de autodefesa do que de fidelidade.
São fiéis uns aos outros, não porque se estimem, mas porque precisam uns dos outros, para manter-se no poder.
Quando se reencarnam, trazem programas muito bem elaborados, e o compromisso de apoio e solidariedade irrestritos, da parte dos que ficam no mundo espiritual.
Assim se explicam os êxitos, em termos humanos, que obtêm, enquanto por aqui se encontram, e a provisória, mas segura impunidade em que continuam a viver, quando retornam aos seus domínios, após a desencarnação, por maiores que sejam as atrocidades que cometem, como homens.

Ao que tudo indica, até mesmo enquanto na carne, mantêm-Se em contacto íntimo e permanente com seus comparsas do Além, e continuam a exercer a parcela de autoridade de que dispõem entre eles, realizando contactos, durante os desprendimentos parciais, provocados pelo sono.

A estrutura administrativa dessas instituições está preparada para aceitar tal flexibilidade, sem prejuízo para as suas tarefas.
Elas não podem falhar e, por isso, há sempre alguém em condições de suprir uma ausência ocasional ou definitiva.
A não ser que o líder esteja colocado em posição muito elevada, e se tenha tornado praticamente insubstituível, a organização sobrevive naqueles que o substituem, pois há interesses poderosíssimos a proteger e personagens muito destacadas, no mundo do crime, a resguardar.
Assim, dificilmente a instituição é desmantelada, quando o seu chefe supremo é convertido ao bem.
E também não é sempre que esses líderes, mesmo convertidos, podem voltar sobre seus passos e tentar convencer seus antigos comparsas.
Uma vez convencidos a mudar de rumo, caem em desgraça ante seus companheiros.
O primeiro impulso destes é resgatá-los, especialmente quando são figuras importantes, na máquina do poder.
Verificada, pelos seus ex-amigos, a impossibilidade de “salvá-los”, abandonam-nos à sua própria sorte, quando não procuram voltar contra eles todo o poderio da própria instituição que antes eles comandavam.

São muitos os dramas e as manobras dessa hora decisiva.

Quando conseguimos colher, em nosso afeto, um desses poderosos companheiros extraviados, há uma verdadeira celeuma na retaguarda.
Podemos contar, logo, com manifestações de indignados e agressivos assessores seus, que o desejam de volta e ameaçam arrebatá-lo a qualquer preço, ou que o arrasam, com a sua decepcionada hostilidade.

Um desses lideres portou-se com dignidade impressionante.
Convencido a abandonar suas tarefas tenebrosas, sentiu todo o peso de sua responsabilidade, ante aqueles Espíritos que levara ao transviamento.
Dependiam dele, de sua orientação, de sua palavra, e, exatamente porque confiavam nele é que foram levados ao extremo de cometerem crimes terríveis.
Competia-lhe, agora, usar dessa mesma influência para reencaminhá-los ao bem.
Ao que depreendemos da conversa com ele, na sessão seguinte, passou uma semana a estudar diferentes grupos mediúnicos, a fim de decidir onde levar seus companheiros, para que fossem, como ele, doutrinados e despertados.
Sua sinceridade era evidente, e sua franqueza rude, mas muito realista.
Confessou-nos que não vira condições suficientes nos grupos que visitara.
Nenhuma esperança tinha ele — acertadamente — em grupos cujos componentes apresentavam-se com mazelas semelhantes à dos Espíritos que precisavam de tratamento; hipocrisia, rivalidades, falta de fraternidade.
Mesmo assim, estava disposto a ajudá-los, pois não teria paz enquanto não conseguisse recuperá-los também.
Eles confiavam no seu antigo chefe, mas precisavam de ser convencidos.
Sua frase final foi de uma beleza transcendental:

— Farei com as minhas lágrimas um rosário para oferecer a Jesus.
.
.

*

Há, pois, aqueles que, uma vez convertidos, têm condições de tentar ajudar os que ficaram, e há aqueles que não podem sequer pensar nisso, porque não lhes, seria permitido pela própria estrutura e pelos métodos da organização a que pertenceram por longo tempo.
No primeiro caso, é possível admitir que a instituição se desfaça, desarticule-se, quando se trata de organização de menor porte, porque as mais vastas, empregando milhares de servidores, endurecidos na prática do mal, sobrevivem a essas crises, ainda que seus líderes as abandonem, pois as estruturas resistem.
Estão preparadas para isso, e dispõem de planos alternativos, para emergências.
Em casos excepcionais, os benfeitores espirituais valem-se do momento de crise, ainda que ocasional e temporário, para um trabalho de saneamento, que pode abalar seriamente as instituições e até mesmo neutralizá-las.

Muitas vezes, porém, organizações menores filiam-se às maiores, e têm delas supervisão e proteção, porque os objetivos, quase sempre, são os mesmos, ou muito se assemelham os métodos de ação.
E quando os grupos de socorro espiritual começam a interferir em seus trabalhos, elas se aconchegam umas às outras e desenvolvem planos combinados de ataque, que podem causar consideráveis transtornos.

Sejam, porém, grandes ou pequenas, seus organogramas são tão bem planei ados e implementados como os de uma empresa.
Só que, em vez de visarem a atividades industriais ou comerciais, com o fim de produzirem lucro, como as sociedades anônimas da Terra, produzem o terror e a opressão, e lutam pelo poder e por aquilo que entendem como glória pessoal.

Têm seus chefes, seus planei adores, seus executores, operários, guardas.
Conservam registros meticulosos, movimentam documentação, utilizam-se de aparelhos, dispõem de tropas de choque, “armadas” e bem adestradas.
Promovem reuniões, concilios, debates, exposições, conferências, sermões, ritos.
Promulgam leis, punem os indisciplinados, condecoram e distribuem prêmios aos que se destacam por trabalhos de especial relevância.

Seus métodos são os do terror pela violência, sua incontestável hierarquia apóia-se num regime disciplinar implàcável, rígido, inflexível.
Não se tolera a falta, o deslize, a revolta, a desobediência.

Sua ética é governada pela total ausência de escrúpulo.
Nada os detém, tudo é permitido, desde que os fins a que visam sejam alcançados.
Aqueles, pois, que resolvem organizar um grupo mediúnico de desobsessão, devem estar bem preparados para enfrentá-los.

É preciso enfrentá-los com paciente firmeza e confiança nos poderes que nos sustentam.
Nada de ilusões, porém.
Não podemos abrir brechas em nossa vigilância, porque penetrarão, sem nenhuma cerimônia, pelas portas das nossas fraquezas, se assim o permitirmos, de vez que nada lhes é sagrado, e tudo se lhes permite.

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