26 VAIDADE E ORGULHO – DIÁLOGO COM AS SOMBRAS HERMÍNIO C. MIRANDA

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Muito ligado ao problema do poder está o da vaidade, e também o do orgulho.
Vimos como se entrelaçam, no caso da rainha indiana.

A vaidade se apresenta sob muitos aspectos e é claro que nem sempre está associada ao exercício do poder.
Às vezes, limita-se aos cuidados com a aparência “física”, as vestimentas, ou à inteligência.

Muitos são os que nos visitam, nas sessões mediúnicas, em estado de exaltação vaidosa.
Há os que se julgam muito belos (ou belas), os que ostentam condecorações, jóias, mantos, séquitos de servidores e acólitos, bem como os que alardeiam conhecimentos intelectuais estupendos.
Um desses foi enfático.
Dirigia uma organização que mantinha Espíritos aprisionados sob as mais abjetas condições do submundo das dores.
Ao apresentar-se, falou imediatamente sobre si mesmo: era belo, poderoso, “divino

— Você me vê? — pergunta-me.

Sempre fora importante.
É o senhor daquela região (o médium havia sido levado, por desprendimento).
Tem ali muitos prisioneiros, guardados por um velho que, em tempos passados, fora seu escravo, e que chicoteou, em nossa presença.
Quanto a mim, devo-lhe algo muito sério, pois lhe arrebatei alguém que estava destinado a ficar também, como prisioneiro, em seus tenebrosos domínios.

Quando comparece da segunda vez, faz uma cena, fingindo ser um pobre enforcado, necessitado de socorro urgente e de passes restauradores.
Ao perceber que não conseguiu iludir-nos, ri, desapontado, dizendo que estamos ficando muito sabidos e perigosos.
Retoma o diálogo irônico, envolvente, inteligente.
Revela-se um dos magistrados do Espaço.
Cabe-lhe fazer com que a lei seja cumprida.
Não é ele quem retém seus prisioneiros; são seus próprios crimes, e eles querem ficar lá, numa autopunição inevitável.
Volta a dizer que é belo, brilhante e poderoso.
Sente-se nele a evidente satisfação consigo mesmo, com aquilo que faz, a alegria quase infantil com que contempla a si mesmo, e à sua obra sinistra.

Fez com alguns companheiros encarnados um pacto.
Poder versus poder.
Ele os ajuda a conquistarem uma fatia de domínio, no lado de cá da vida, e eles lhe dão, por sua vez, a parte que lhe toca.
A essa altura, propõe, também a mim, uma barganha: libertará aqueles em quem estou interessado, em troca de uma condição: devo “depor as minhas armas”.
E, muito vivo e inteligente, antecipa minha resposta:

— “Sei que você vai dizer que o amor não é uma arma.
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.

Não só isso, respondo-me, mas, também não tenho autoridade para fazer acordos.
Fale com meus superiores, lá mesmo, no mundo

espiritual.
Tudo ele tenta, inclusive o meu envolvimento, com elogios e lisonja.
Depois, perde a paciência, indignado.
Não está acostumado a resistências assim, irracionais e tolas, ele que é um “deus”.

Coitado! Como é difícil cair do pedestal.
.
.
mas vai aos poucos cedendo, e enquanto entra em crise, o pior lhe acontece, pois vê sua beleza física desmoronar-se lentamente, enquanto um súbito e estranho processo de envelhecimento destrói-lhe as belas feições.
Ouve choro de crianças (te-las-ia sacrificado?) e, por fim, confessa que seu ódio “perdeu a força”.

É uma afirmativa desesperada, arrancada do fundo de si mesmo, e não deve ter sido fácil para ele reconhecê-lo; a crise começou a precipitar-se nele, a partir do momento em que deixou de ser belo.
Demonstrada, a ele próprio, a insuficiência da vaidade física, as demais vaidades também entraram em colapso.

*

Quanto ao orgulho, visita-nos com igual freqüência, e vem sempre associado à vaidade ou ao poder, ou a ambos.
Alguns nos invocam a velha fórmula:

— Você sabe com quem está falando?

Comandam vastas instituições do terror.
Apresentam-se aparentemente tranqüilos e seguros, ou assaz rancorosos e agressivos.
Às vezes são, de fato, muito brilhantes e cultos, artificiosos no raciocínio envolvente, na formulação de perguntas embaraçosas, hábeis manipuladores do método socrático, com o objetivo de obter a condenação do doutrinador, através de suas próprias palavras.
Que prazer sentem em oprimir e dominar! Que orgulho pelas posições que ocupam, conquistadas com dores e sofrimentos infligidos ao semelhante! Vivem, literalmente, em pedestais, dos quais nem pensam em descer, porque, se o fizerem, encontrarão seus próprios fantasmas, suas culpas, suas angústias pessoais.
Alguns crêem-se realmente divinizados e onipotentes.
Um deles me disse que acreditava em Deus:

— O fato de eu existir — afirmou —, prova que alguém me criou.

Mas, quanto ao Cristo, fora um fraco.
Nada tinha contra Ele, contanto que Ele não interferisse com seus planos, que eram grandiosos.

Outro companheiro, chocado com o tratamento que haviamos dispensado ao seu “chefe”, através de outro médium, manifestou-se irritado, até mesmo algo assustado, dizendo-nos que nem fazíamos idéia de quem era ele, pois, do contrário, não o teríamos tratado daquela forma.
Ele era muito importante mesmo:

— Ah! se você soubesse quem é ele.
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E os antigos “Príncipes” da Igreja, que comparecem tremendamente enfatuados, condescendendo em conversar conosco, trânsfugas miseráveis, traidores vis, envolvidos com uma doutrina maléfica, demoníaca, como o Espiritismo? Que pompa, coitados! Que olímpica indignação!

Um destes me conheceu em antiga encarnação, durante a Reforma Protestante, onde fôramos adversários, no campo teológico.
Num “flash” de inspiração, pois estou familiarizado com as minúcias da história da Reforma, identifiquei-o pelo nome.
Era ele mesmo.
Acabamos, ambos, descobrindo as fontes ocultas de seu fanatismo religioso: em tempos idos, ele fora um daqueles que apedrejaram Estevão.
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