“Guardai-vos, não façais vossas boas obras diante dos
homens, com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte, não
tereis a recompensa da mão de vosso Pai que está nos Céus.
Quando, pois, deres a esmola, não faças tocar a trombeta
diante de ti, como praticam os hipócritas nas sinagogas e nas
ruas, para serem honrados pelos homens; em verdade vos digo
que eles já receberam a sua recompensa.
Mas, quando deres a esmola, não saiba a tua mão esquerda o
que faz a tua direita, para que tua esmola fique escondida, e teu
Pai, que vê o que tu fazes em secreto, te pagará.
” (Mateus, 6:1 a
4.
)
Como ressalta do texto evangélico que antecede estas linhas,
há duas maneiras bem distintas de fazer boas obras: uma, ditada
pelo orgulho; outra, inspirada pela caridade.
Aquela, fortemente impregnada do espírito farisaico, que
consiste em aparentar virtudes inexistentes, em exaltar a própria
personalidade; esta, calcada na sinceridade e na compaixão pelos
sofredores, sem outro objetivo senão fazer o bem pelo amor ao
bem.
Aquela, visando a compensações, como a consideração e os
louvores da sociedade; esta, buscando apenas a alegria íntima do
cumprimento de um dever.
Os fariseus do passado, quando se dirigiam ao templo ou saíam
à rua para distribuir esmolas, faziam-se preceder por arautos, que
lhes anunciavam a presença com estridentes toques de trombeta.
Utilizavam-se desse meio para se fazerem notados pelo povo e
adquirirem fama de santos, quando, na realidade, o que abundava
neles era a hipocrisia e não a piedade.
Lamentavelmente, criaturas assaz imperfeitas que ainda somos,
também nós gostamos de aparecer em campanhas de larga
repercussão, mormente quando haja divulgação de nomes dos
“benfeitores”, mas, não raro, negamos um minuto de atenção a
esses infelizes farrapos humanos que nos batem à porta, furtamonos
ao mais insignificante favor a quem não no-lo possa retribuir,
assim como arranjamos sempre uma desculpa para esquivar-nos a
qualquer esforço próprio, quando se nos ofereça ensejo de
colaborar, anonimamente, nesta ou naquela tarefa de assistência
aos desvalidos.
Ensinando-nos a fazer o bem sem ostentação, silenciosamente,
dando com a direita, sem que a esquerda o saiba, Jesus quer
desenvolvamos em nós os sentimentos de humildade e de legítima
fraternidade cristã, sendo modestos e recatados no benefício que
fazemos, a fim de não agravarmos a amargura de nossos irmãos
necessitados, porquanto, apesar de sua má condição social, eles
também possuem dignidade pessoal, que devemos respeitar.
Assim, pois, socorrê-los publicamente, expondo-os a
humilhações, é profanar a caridade, tornando-a apenas uma
agência de publicidade a serviço de nosso personalismo egoísta e
mercenário.
Enquanto fizermos boas obras apenas para sermos vistos pelos
homens, sorvendo, qual delicioso néctar, as palavras de elogio que
eles nos dirijam, teremos, na própria satisfação efêmera de nossa
vaidade, a recompensa de nossos feitos, sem que nada mais nos
seja creditado na contabilidade celeste.
Quando, porém, soubermos agir sob os impulsos generosos do
coração, por verdadeiro altruísmo; quando formos capazes de
servir e passar, sem esperar, sequer, uma palavrinha de gratidão,
então, sim, estaremos desenvolvendo nosso Cristo interno e,
sintonizados com o Pai celestial, onde quer que estejamos,
viveremos permanentemente na mais perfeita tranquilidade de
alma, gozando a gloriosa e inenarrável felicidade de.
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ser bom!