“Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim
destruí-los, mas sim dar-lhes cumprimento.
Porque em verdade
vos afirmo: passará o céu e a terra, mas de modo nenhum passará
da Lei um só i ou um só til, sem que tudo se cumpra.
” (Mateus,
5:17 e 18.
)
Que lei é essa, a respeito da qual afirma o Mestre ser mais fácil
que o céu e a terra deixem de existir do que ela não ser cumprida
integralmente, sem a menor falha?
Seriam todas aquelas prescrições e ordenações contidas na
Bíblia, que muitos consideram “a palavra de Deus”, de capa a
capa?
Não! A Lei a que o Mestre se refere é o Decálogo.
Coubera aos
judeus as primícias de tão estupenda revelação, mas, não obstante
terem sido admoestados reiteradamente pelos profetas da
antiguidade, eles o haviam relegado ao mais completo
esquecimento, limitando-se a observar os formalismos do culto
exterior, estatuídos pelo rabinismo.
Sim, “a Lei e os profetas” que o Mestre veio exemplificar, para
que, a nosso turno, aprendendo com Ele, também puséssemos em
prática, são os dez mandamentos, que até então não haviam sido
cumpridos por ninguém, nem mesmo por Moisés, que os recebera
no monte Sinai.
Há que distinguir-se na Bíblia, por conseguinte, a lei moral, ou
seja, a Lei de Deus, que é imutável, indefectível e destinada, por
isso mesmo, a todos os tempos e a todos os povos, das leis civis
ou disciplinares que o citado Profeta, mentor que era dos judeus,
outorgou exclusivamente a seu povo e para aquela época,
contrariando, muitas vezes, o Código Divino.
Quem tiver dúvidas a esse respeito, corra os olhos pelo Velho
Testamento, onde se acham consignadas as ordenações de Moisés,
e verifique, depois, se nas disposições legais das sociedades
contemporâneas há qualquer coisa que se lhes assemelhe.
Absolutamente não!
É que a legislação moisaica era nacional, local e temporária,
isto é, destinava-se a reger tão somente os destinos dos hebreus,
naqueles caliginosos tempos bastante ignorantes e de péssimos
costumes, sendo, portanto, inexequível em nossos dias, em que
vigem usos e costumes completamente diferentes, fruto de muitos
e muitos séculos de progresso e de aperfeiçoamento das
instituições.
Já não acontece o mesmo com o Decálogo, cujos preceitos,
promulgados por Deus para vigência eterna e observância
universal, permanecem atualíssimos e impregnam os códigos de
quantas nações civilizadas se hajam organizado na face do
planeta.
A Lei foi dada aos homens para uni-los por um mesmo ideal: o
Amor.
Por isso é que Jesus Cristo, resumindo-a, para nos facilitar
sua compreensão, pregava: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o máximo e o primeiro mandamento.
E o segundo,
semelhante a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos depende TODA A LEI E OS
PROFETAS”.
(Mateus, 22:37 a 40.
)
Portanto, tudo quanto possa inspirar desafeto a Deus e ao
próximo; tudo aquilo que dívida e desarmonize a família humana,
impedindo-a de realizar o sublime ideal vivido pelo Cristo (e estão
nesse caso os sistemas filosóficos, políticos ou religiosos que
prescrevem a discriminação racial, pregam o ódio, cultivam a
intolerância, amaldiçoam e perseguem supostos hereges,
advogam a pena de morte etc.
), não provém da Lei, ou melhor, é
contra a Lei, e terá de cair e desaparecer, como caíram e passaram
as prescrições moisaicas da lapidação, do olho por olho e dente
por dente, e outras tais.
“O Amor é o cumprimento da Lei”, essa a doutrina do
Evangelho.
Ninguém sonhe, portanto, com o paraíso, antes de
haver aprendido a “amar a Deus e ao próximo”, eis que, como
solenemente afirmou o Cristo: “Poderão passar o céu e a terra,
mas de forma alguma passará da lei um só i ou um só til, sem que
tudo se cumpra”.